sexta-feira, 12 de agosto de 2011

A PALAVRA - Rubem Braga


            Tanto que tenho falado, tanto que tenho escrito-como não imaginar que, sem querer, feri alguém? As vezes sinto numa pessoa que acabo de conhecer, uma hostilidade surda, ou uma reticência de magoas. Imprudente oficio é este, de viver em voz alta.
            As vezes, também a gente tem o consolo de saber que alguma coisa que se disse por acaso ajudou alguém a se reconciliar consigo mesmo ou com a sua vida de cada dia; a sonhar um pouco, a sentir uma vontade de fazer alguma coisa boa.
            Agora sei que outro dia eu disse uma palavra que fez bem a alguém. Nunca saberei que palavra foi;  deve ter sido alguma frase espontânea e distraída que eu disse com naturalidade porque senti no momento - e depois esqueci.

Nenhum comentário:

Postar um comentário